segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A história de Esperança

UMA GATINHA CHAMADA ESPERANÇA

Zélia M. Bora

Não entendo porque vim ao mundo. Só sei que respiro, sinto fome, sinto sede, sinto frio e também sinto quando sou amada. Ando pelos cantos das paredes e conheço todo o apartamento onde moro, mesmo na escuridão em que vivo. Tenho até um quarto só para mim.

Nem todos os humanos são maus como a pessoa que me separou de minha mãe e jogou-me na rua. Vocês não podem imaginar o desejo que tenho de viver.

Nas ruas sem fim por onde andei, ouvi barulhos imensos e pessoas falando, sobre coisas que jamais entenderei. Só sei que naquele dia senti medo, mas meu espírito de sobrevivência fez-me prosseguir mesmo sem rumo certo. Sei que sou pequena demais para ser notada, mas mesmo assim, segui com determinação, pois senti o cheiro de algo que me deu fome. Motivada pela fome e sede, entrei num lugar. Naquela tarde, já se transformando em noite, só sei que senti medo, mas distraí-me com a brisa e parei para sentir o cheiro das flores. Por um momento, esqueci-me de meu desespero. Senti também que próxima às flores havia água. Como não posso ver as vezes me atrapalho, especialmente, quando estou nervosa.Eu esbarro nas paredes, móveis, até sentir dor e aí tenho de me acalmar para não me machucar. Naquela tarde não pude sentir o perigo que corria e caí na água. Por ser um bebê e ter o corpo muito leve nadei sem saber como sair da água for horas a fio, até que um homem me resgatou, enquanto eu ouvia a voz maligna de uma mulher que dizia - “Odeio gatos. Jogue essa coisa fora”- Fui jogada na rua mais uma vez. Com frio, comecei a gritar em desespero com todas as minhas forças até que finalmente um anjo ouviu meu clamor. Hoje não sinto fome nem sede, mas ainda tremo quando sinto a presença de estranhos.

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Depois, muito doente, soube que caíra dentro de uma piscina. Hoje moro na casa desse anjo, que também é minha casa.

Voltei a brincar com bolinhas de papel, corro e dou saltos. Mesmo que eu não possa ver o mundo, vejo e sinto o amor que me salvou a vida e me deu o nome de Esperança.

João Pessoa, 11 de dezembro de 2010.

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